(Por: Mariano Andrade)
Nos anos
80, a porta de entrada de um filme na grade da Rede Globo era o “Primeira
Exibição”. Tratava-se da sessão que ia ao ar aos sábados logo após a novela da
oito, sempre trazendo um filme inédito na TV brasileira. Depois de debutar no
Primeira Exibição, o filme passava a fazer parte do catálogo da Rede Globo e
ocasionalmente era reprisado na Sessão da Tarde, no Corujão, ou em outros
programas.
Como
ocupavam um horário nobilíssimo, os filmes do Primeira Exibição eram esticados
ao limite da paciência do telespectador para incluir o máximo de inserções
comerciais. O filme começava na “parte 1”, mas logo no primeiro momento de
maior tensão já vinha o primeiro intervalo comercial. Voltava na “parte 2” e,
de novo quebrando o clímax: intervalo comercial. E assim iam seguindo “parte 3”,
“parte 4”, “parte 5”. Quando o mistério ia ser desvendado quase no finzinho do
filme... intervalo comercial!!?! Então, após longa espera, o filme retornava com
o gerador de caracteres mostrando “parte final”, parte essa que demorava meros três
minutos, mas que constituia o desfecho indispensável da história.
Com esse
expediente, a sessão do Primeira Exibição demorava o dobro do tempo do filme em
si. E, apesar do abominável intervalo comercial derradeiro, a “parte final” era
indispensável e imperdível, mesmo às altas horas.
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Depois de
algumas décadas, o “Primeira Exibição” está novamente no ar. O Brasil está
prestes a estrelar um filme nunca antes exibido – a destituição de um governo
populista, caudilho, corrupto e miliciano sem que haja derramamento de sangue.
Os filmes que a História nos mostra na Sessão da Tarde são diferentes, envolvem
luta armada, guerra civil, ou outro sortimento de sacrifício de vidas humanas
quando cai o castelo de cartas.
O governo
petista, apesar da inflamação recentemente ensaiada por Lula, não tem mais
força para mobilizar as massas. Seus repetidos e acintosos “malfeitos” erodiram
completamente seu capital político. Basta ver os ridículos movimentos pró-Dilma
que pipocam aqui e ali, contando com cinquenta pessoas, todas elas remuneradas
pelo gordo orçamento corrupto do PT, sindicatos, e afins. A “multidão” vermelha
que apoiava Lula quando ele terminou seu depoimento em Congonhas contava com
algumas dezenas de gatos pingados. E Lula ainda acha que dá para guerrear, segundo
a nobre deputada cujo vídeo vazou. A platéia já está cansada e espera
ansiosamente a “parte final”.
A queda do
PT será como o Primeira Exibição: demorou muito mais do que deveria por conta
dos intervalos. Lula e sua gangue já deveriam ter sido enxotados no escândalo
do mensalão. Mas o boom das commodities gerou renda e engordou os
programas sociais, o que – aliado à propaganda nazista do PT que tomou para si
a autoria dos ventos de progresso – parou o filme para um grande intervalo.
Contudo, o
roteiro foi ficando mais denso, a trama começou a ser revelada, a indignação
seguiu crescendo e, em 2013, as manifestações ganharam corpo e o povo foi às
ruas. O governo balançou, mas contra-atacou reduzindo impostos de carros e
geladeiras, mandando que os bancos públicos abrissem as torneiras do crédito e
turbinando ainda mais os programas sociais. Arrancou, com isso outro, intervalo:
e tome comercial do governo no horário nobre financiado com o dinheiro público.
Mais à
frente, o PT ainda conseguiu cavar outro break
com o estelionato eleitoral de 2014. Quem não se lembra de Dilma afirmando que
a inflação estava sob controle, que a conta de luz não ia aumentar e tantos
outros sofismas?
Mas o filme
volta a rodar. Na tela, vê-se o trabalhador desempregado, a saúde pública de
joelhos, os impostos escorchantes, os escândalos sem fim, a sociedade civil se
aglutinando em busca de um futuro melhor... O roteiro esquenta de vez, mas aí
vem outro intervalo: manobras daqui e dali, recesso, Carnaval. “Parte 3”, “parte
4”, “parte 5”... Vai chegando o final do filme: a polícia finalmente fecha o cerco no
chefão, a tensão cresce: o que vai acontecer? Intervalo de novo?
Só que alguma
hora o filme vai acabar. Por mais que o intervalo final seja longo e detestável,
ele termina e o desfecho da história é então revelado. Dia 13/3, o filme voltará
a rodar, começará a “parte final” e o Brasil fará História.
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