(Por: Mariano Andrade)
Os Jogos Olímpicos do Rio estão rolando a todo vapor. Claro,
houve problemas de organização, de logística e de abastecimento, já esperados e
também observados em outras edições dos Jogos.
Canos entupidos na vila e piscina com água verde vão dar
pano para manga, mas é tudo coisa pouca perto da festa do esporte e da
confraternização dos povos. E o Brasil parece o lugar ideal para
confraternizar, com sua gente alegre e hospitaleira.
Há, no entanto, uma importante ressalva. O brasileiro não
sabe usar corretamente o instrumento da vaia. Assim como ainda não aprendemos a
usar o voto, falta-nos o entendimento do que representa a vaia e de como ela
deve ser aplicada.
Por exemplo: vaiar Michel Temer na abertura dos jogos é uma
burrice inenarrável, qualquer que seja sua orientação política ou partidária.
Trata-se de um momento solene, onde Temer representava o país-sede dos Jogos, e
não uma corrente partidária. Vaiá-lo perante os olhos do mundo inteiro é lavar
roupa suja em público. Pior: é vaiar a si próprio como anfitrião dos Jogos.
De todas as reclamações dos atletas, comitês e espectadores
estrangeiros, a mais procedente é o mau uso da vaia pelo público brasileiro
durante as competições. Cabe-nos refletir sobre o assunto, fazer uma
autocrítica e tentar subir alguns degraus no ranking da educação.
O ato de vaiar uma pessoa expressa um repúdio ao fato de ela
estar ali. Ou seja, quando entra em quadra um atleta argentino ou uma equipe
prestes a enfrentar o Brasil, a vaia significa que a torcida brasileira não entende
que aquela presença é apropriada ou merecida.
Traduzindo: um atleta que treinou durante anos, logrando o
direito de competir no mais alto nível de sua modalidade e representar seu
país, é vaiado só porque nasceu em determinado lugar ou porque vai disputar com
o Brasil? Isso é diferente de vaiar alguém pelo fato de ele ser branco, negro,
pardo, índio ou amarelo?
Público e mídia brasileiros, com razão, adoram histórias de
atletas que abdicaram de tudo pelo esporte. Ocorre que a maioria dos atletas
olímpicos está aqui porque abriu mão de muito para treinar e chegar aonde chegou.
Claro que alguns países têm mais estrutura que outros, mas vaiar o atleta –
qualquer que seja – é desqualificar seu merecimento de lá estar competindo.
Se o público vaia, a mensagem é que não quer o atleta ali.
Ou seja, preferia que o Brasil vencesse por WO. Então, porque o espectador que
vaia paga o ingresso ou assiste na televisão? Se ele vaia, ele não quer ver o
espetáculo, pois sem a presença do adversário não há jogo, não há emoção, não
há celebração do esporte e não há festa.
Da mesma forma, vaiar um ponto do adversário denota um
sentimento de que ele não deveria se esforçar para derrotar o Brasil. Ou, em
outras palavras, que o público preferia que o adversário entregasse o jogo ou
fizesse corpo mole, maculando o espetáculo. Em resumo, ao vaiar um adversário
ou um argentino, o espectador brasileiro está vaiando os Jogos Olímpicos por
tabela.
A vaia cabe (e muito) quando há uma atitude antiesportiva,
uma falta violenta, um gesto desrespeitoso perante torcida, oponente ou juiz.
Fora isso, o que vale é torcer mais alto e vibrar mais intensamente, sabendo
ganhar e perder, aprendendo a ser mais educado e ensinando ao mundo como fazer
festa.
Ainda dá tempo de virar esse jogo.
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