Achtung Baby


(Por: Mariano Andrade)


O professor de História entra na sala de aula, portando consigo uma cópia de Mein Kampf, atraindo olhares obtusos dos alunos.

— Bom dia, turma. Hoje nossa aula será dedicada a estudar a jornada e o legado de um grande líder do século XX. Eu gostaria de começar no longínquo ano de...

— Nazista! Nazista! Eu me recuso a ficar aqui ouvindo você falar desse monstro, interrompe uma aluna.

— Calma, pondera o professor. Eu ia apenas dizendo que ele começou a moldar sua liderança por acreditar que podia unir seu povo num governo solidário. Ocorre que...

— Solidário, professor?! – brada outro aluno. Ele criou massas de manobra, verdadeiros escravos. A solidariedade não existia. Era um socialismo de fachada onde os “amigos do rei” tinham tudo do bom e do melhor enquanto o povo passava fome.

— Veja – retruca o professor. Ele se interessou pela política em parte por encontrar exatamente um cenário de devastação econômica, com alto desemprego e nações militarmente mais fortes se beneficiando financeiramente de acordos que...

— Isso é falácia, professor. Não há desculpa para expiar um genocida deste calão.

— Isso mesmo, faz coro outro aluno. Ainda por cima, perseguiu milhões de pessoas por racismo, intolerância religiosa e homofobia. Matou outros tantos simplesmente para criar a tal solidariedade, uma pureza fabricada. Um nojo!

— Acabou com a liberdade de imprensa e de religião, oprimiu seu povo, impediu manifestações. Professor, aqueles filmes com todo mundo ouvindo seus discursos inflamados é pura propaganda. Era uma felicidade de fachada.

 — Turma, vocês talvez sejam jovens demais para perceber que ele era um visionário, um líder que queria o melhor para seu povo. Um homem cândido por dentro, tanto que...

— Cândido? O senhor só pode estar nos zoando. O cara exterminou milhões de pessoas. Fuzilou oponentes, homossexuais, jornalistas, escritores, gente trabalhadora e de bem. Quantas famílias foram desfeitas? A única esperança para os perseguidos era abandonar seus lares na tentativa de fugir com vida e buscar um recomeço em terras estrangeiras.

— Isso mesmo, professor. Concordo com o que meu colega disse e acrescento que este monstro se apropriou de bens de civis inocentes, tomando para si terras, casas, dinheiro, obras de arte, jóias, e tudo mais. Tornou-se um homem riquíssimo sob a fachada do socialismo fraterno.

— Pessoal, vocês não vêem o quanto o legado deste líder será benéfico para seu povo no futuro? – indaga o professor, já cansado do debate.

— Professor, o senhor está louco. O mundo globalizou-se e, apesar das ondas nacionalistas mais recentes, não há mais volta. Qualquer nação que se fechar pro mundo, será destruída economicamente. O quê de bom esse sujeito deixou, meu Deus?

— Galera, vamos ocupar esse barraco aqui, grita um outro lá do fundo. Temos que expulsar esses professores reacionários desta escola! Ocupação já!

Instalou-se uma gritaria na sala por alguns minutos, até que finalmente o professor conseguiu acalmar os ânimos e concluir sua aula.

— Prezados alunos, vim aqui hoje para falar sobre Fidel Castro.

Os queixos começaram a cair...

— Pelo que percebi, vocês conhecem bastante da história deste homem, pois tudo o que vocês disseram foi bastante pertinente à trajetória dele e latente em sua doutrina.

Olhares perplexos... O professor seguiu:

— Porém, uma diferença entre Hitler e Castro é que Castro jamais obteve um voto sequer. Mesmo assim, esteve no poder por quase 60 anos.

Nem um pio... E, enfim, a conclusão do mestre:

— Certa vez, Castro disse que a História se encarregaria de absolvê-lo. Vocês, nobres alunos, o julgaram aqui hoje, condenando-o a um lugar na História ao lado de Hitler. Parabéns e até a próxima semana.

(Nota do autor: Não sei se é possível relativizar assassinos. É claro que a maldade de Hitler teve alcance muito maior. De antemão, peço desculpas aos que se sentirem ofendidos pela analogia - e não comparação - explorada no texto)



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