(Por: Mariano Andrade)
A
determinação do prefeito de São Paulo, João Dória, em estabelecer uma sensação
de ordem é louvável. A política “no broken window” de Rudolph Giuliani foi uma
das alavancas para a transformação de NY em uma cidade segura. No caso de São
Paulo, o primeiro alvo foi repintar os muros pichados e grafitados em locais onde
tal prática não estava autorizada. Nada mau, certo?
Errado.
Começa o mimimi. “Grafite é arte”, “pichação é uma maneira democrática de o
povo se manifestar”, e por aí vai. Sério mesmo que a ordem pública (condição
necessária mas não suficiente para progresso) tem que se sujeitar a essa
discussão? Parece que sim, infelizmente.
O
brasileiro paga muito caro por obras públicas, que acabam custando o triplo do
que deveriam e demorando o quíntuplo do prazo estimado. E o povo reclama disso,
com razão, vai às ruas protestar, grita, faz abaixo assinado. Qual é, então, o
sentido de um sujeito pichar uma obra pública? Está ferindo o patrimônio
público tal qual o político que desvia dinheiro. Qual o sentido deste
vandalismo ser defendido pelos mesmos que reclamam do déficit de infraestrutura
e da corrupção? Veja o leitor que mesmo obras mais recentes, como a ponte
estaiada em São Paulo, a duplicação do Joá no Rio de Janeiro já se encontram
pichadas, vandalizadas. Reclamar da corrupção em obras públicas e defender o
piche ou grafite é a mais grosseira incongruência (ou seria relativização de
virtudes?).
O debate sobre
se grafite e piche são diferentes é um apêndice dantesco da polêmica em
questão. Pura cortina de fumaça. A questão envolve julgamento individual, análogo a considerar Miró,
Mondrian ou Pollock como arte (ou não). Ou, descendo o nível, discutir se a
peça “Macaquinhos” é uma obra-prima ou um lixo. Maria pode gostar de Van Gogh
mas achar Rothko um engodo. José pode pensar justamente o contrário. E outros
podem apreciar ambos os artistas. O fato é que o trabalho de Van Gogh, Rothke,
Miró, Mondrian e Pollock está exposto em museus, locais apropriados para tal e
cuja visitação é voluntária, vai quem quiser. Mesmo “Macaquinhos”, sendo apresentado
no teatro, está em seu habitat natural e legalizado, vai assistir quem desejar.
Aqueles que consideram grafite como arte deveriam apreciar o fato de que há
lugares apropriados para exposição, como é o caso em qualquer esfera artística. Se
arte é livre e deve ser expressada em qualquer lugar, segue que encenar “Macaquinhos”
numa escola infantil é absolutamente apropriado.
Neste
Brasil onde tanto se discutem as minorias, há formas de expressão que alguns
consideram arte e que não têm o mesmo “acolhimento” do grafite. Pornografia é
arte? Há quem pense que sim e esta opinião deve ser respeitada (o oposto seria reacionário,
certo?). Pelo mesmo raciocínio do grafite – qual seja, arte não tem lugar nem
hora – seria absolutamente normal e republicano um diretor filmar uma cena
pornográfica num convento ou num parquinho infantil.
Tatuagem é
outro exemplo – por que os menores de idade não podem se tatuar sem autorização
dos pais? Estamos tolhindo a liberdade artística? Se tatuagem é arte e arte não
deve ter limites, uma tatuadora pode expressar seu talento na pele de seu filho
de 8 anos? Claro que não. É necessário consentimento, que só pode ser dado
quando o indivíduo tiver certa maturidade. É o mesmo que o grafite – há que se
ter consentimento do poder público para grafitar um muro, senão é bagunça,
anarquia. Nem é preciso ir muito longe e falar de pornografia ou tatuagem para
provar este ponto: que tal um cineasta premiado fechar a Avenida Paulista um
dia inteiro – sem autorização da prefeitura – para filmar cenas de seu novo
filme? É arte, gente! Virem-se para ir e vir!
Em relação
ao piche ou grafite em propriedade privada, não há nem o que se discutir. Os
defensores desta barbaridade gostariam de acordar e ver que seu lindo carro cor
prata, que já está vendido e será entregue na semana seguinte, foi grafitado com
flores e pássaros durante a noite? Então por que é legítimo depredar o patrimônio
imobiliário de outrém?
Ordem primeiro,
e tomara que a moda pegue pelo Brasil. Progresso, depois.
Excelente e preciso!!!
ReplyDeleteÉ isso mesmo Mariano! Tem que botar ordem!!! Torço para que ele siga firme com as ações e que não seja apenas Marketing de curto prazo!
ReplyDeletePena que o RJ não tem um Dória...
É isso mesmo Mariano! Tem que botar ordem!!! Torço para que ele siga firme com as ações e que não seja apenas Marketing de curto prazo!
ReplyDeletePena que o RJ não tem um Dória...