A greve mais grave


(Por: Mariano Andrade)

Está anunciada uma greve “geral” para 28 de abril, sexta-feira. Está longe de ser uma greve geral, pois diversos setores produtivos estarão em pleno funcionamento, contribuindo para tentar tirar a economia do buraco em que a meteram. Trata-se de mais uma cortina de fumaça dos sindicatos e partidos de esquerda, com objetivo de desviar a atenção da opinião pública da realidade que está sendo desnudada pela operação lava-jato. E, convenientemente, a tal greve acontecerá na véspera de um feriadão.

Os baderneiros já aprontaram outras bagunças nos últimos anos. Tudo motivado pela política e pelo desespero de estarem perdendo as benesses que acumularam ao longo dos últimos governos.

Muitas pessoas não repreendem essas manifestações, mesmo sem concordar com sua motivação, amparando-se na defesa do direito constitucional à greve. Quem pensa assim foi iludido pelo teatro dos desordeiros, pois o direito à greve refere-se ao debate de questões patronais. Convocação de greve geral por agenda política fere o espírito da Constituição.

De outra forma, tudo viraria pretexto para greve. Qualquer notícia vinda de Brasília que desagrade a um ou outro grupo: tome greve! Aumentaram o imposto da cerveja? Greve! O Flamengo perdeu no STF? Greve! É esse o país que queremos? Lembrem-se do que está escrito na nossa bandeira: “Ordem e progresso”. Ordem: funcionamento normal e organizado, previsibilidade, segurança.

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Há um aspecto especialmente temerário nesta dinâmica: a paralisação de aulas em diversas escolas de grandes cidades.

Este ano, várias escolas paralisaram as aulas em 15 de março com a justificativa de que as matérias em discussão em Brasília naquele dia eram de enorme interesse e importância para os profissionais do ensino, e que seria importante que eles acompanhassem seu desenrolar. Mesmo que fosse este o motivo, tratar-se-ia de um racional raso, pois, de forma análoga, os bancos deveriam parar de operar nas datas em que qualquer matéria concernente ao setor fosse ser discutida. Bem como transportes, hospitais, segurança pública ou qualquer outro setor econômico. Se todos adotassem postura similar, viveríamos num caos (os capixabas que o digam). Portanto, a decisão de algumas escolas por suspender as aulas em março foi inoportuna, passando às crianças e aos jovens a mensagem de que seu colégio coaduna com a desordem ou que, no mínimo, certas agendas externas preponderam sobre a boa condução da atividade acadêmica, objetivo-primo da escola.

(A quem interessar, a verdade é outra: houve movimentação dos grupos de esquerda e dos professores-militantes imiscuídos nas escolas para fomentar a paralisação.)

Já seria um absurdo em escolas públicas, mas nas particulares é um disparate de proporções napoleônicas... Eis que, ao longo desta semana, várias escolas particulares anunciaram nova paralisação por conta da greve “geral” de sexta-feira. De novo, ela não será geral: algumas escolas com diretorias mais lúcidas e imparciais já avisaram que as aulas estão mantidas (há alguma luz no fim do túnel?).

Mesmo que a greve fosse legítima (de novo, com o intuito de discutir questões patronais – não é o caso), não cabe ao empregador dar a bênção para que seus funcionários participem da manifestação. É uma subversão da ordem natural das coisas: o empregado é que deve optar por aderir ou não a interrupção, assumindo os riscos e eventuais sanções se o fizer. A empresa, por sua vez, deve envidar melhores esforços para que o serviço contratado seja prestado ao cliente a contento, mesmo que em regime de contingência.

Contudo, o ponto fulcral nesses episódios é a crescente politização das escolas particulares (as públicas, em sua maioria, são um caso perdido infelizmente). Muitas instituições particulares – em seus comunicados – dizem-se democráticas e defensoras de movimentos que busquem o bem comum e a justiça. Ora, cabe a cada observador julgar se determinada manifestação visa, de fato, bem comum e justiça, sendo que discordar e debater é a prática mais saudável. O fato de um colégio interromper as aulas – ou seja, sancionar a greve –  inevitavelmente o posiciona a favor dela, suprimindo a possibilidade de debate e retirando dos alunos a liberdade para formar suas próprias opiniões de maneira independente. O colégio assume o papel de juiz, senhor da verdade e prontamente expede seu veredicto.

Mais uma vez, no intervalo de apenas um mês, os colégios que dão seu aval à greve passam aos seus aos alunos a ideia de frivolidade do processo acadêmico, que pode ser interrompido e bagunçado por qualquer evento exógeno. Esta mensagem enfraquece a legitimidade de o colégio cobrar do aluno seu máximo empenho nas atividades acadêmicas. Ou seja, cria o risco de o processo de aprendizagem ser sensivelmente prejudicado no longo prazo.

Uma das tarefas mais difíceis para educadores é fazer com que crianças e jovens se interessem por atualidades. As escolas perdem uma grande oportunidade de fazê-lo ao suspender as aulas, pois poderiam usar o tema que (supostamente) justifica a greve como tópico de debate em sala. Poderiam transformar polêmica em conteúdo pedagógico. O quê está acontecendo no nosso país? Por que as pessoas protestam? Quais os pontos positivos da manifestação (ninguém disse que educar é fácil...)? Quais as consequências negativas?

Até aqui, os grandes vencedores este ano são os professores militantes e suas respectivas facções que, através das repetidas paralisações, conseguem perpetrar o incrível feito de já plantar a semente para futuramente colheitar massa de manobra nesta geração mais jovem, que apenas começa (ou que nem iniciou) sua vida política. E, pior: contam com a anuência da escola, à revelia dos responsáveis e sendo remunerados (sem desconto pela falta) com o suado dinheiro dos pais. Pais estes que pagam impostos, não recebem do estado o serviço essencial de educação e ainda têm um teto risível de desconto no imposto de renda para a rubrica de educação privada.

Nosso país vive uma transição política, uma lavagem de roupa suja a céu aberto e uma recessão econômica, tudo ao mesmo tempo. Haverá muitos protestos em 2017 e em 2018, ano eleitoral. Se os colégios seguirem paralisando as aulas sempre que houver qualquer manifestação – seja ela de qualquer corrente política ou sob qualquer égide – será impossível terminar o ano letivo com completude do conteúdo pretendido, além de perigosamente ratificar a mensagem para os alunos que o compromisso acadêmico é secundário, fluido ou irrelevante.

Nota zero para tudo isso. Reprovados!



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