(Por: Mariano Andrade)
Há algumas
semanas, o deputado federal Francisco Everardo, mais conhecido como Tiririca, postou uma carta aberta nas redes sociais. Nela, o deputado repudia a ligação
incestuosa de seus colegas parlamentares com a Odebrecht, diz-se decepcionado
com a atitude de os políticos buscarem vantagens pessoais em detrimento do bem comum
e, ao final, relata sua vontade de “esganar esses canalhas”.
Senhoras e
senhores! Respeitável público! Apresento-lhes um político que fala a verdade,
um homem que entrou na vida pública sob chacota e que, hoje, dá lição de
conduta republicana à maioria dos parlamentares de carteirinha. Uma salva de
palmas!
Tiririca
exalta o juiz Sergio Moro, fazendo votos que prenda “todos os bandidos que roubaram a Petrobrás, o BNDES, a
Previdência e a esperança dos brasileiros”. A carta defenestra a Lei de Gérson,
aquela pela qual o indivíduo “quer levar vantagem em tudo” e afirma que está
faltando aos homens públicos decência e entendimento de que seu papel é servir o povo. Tiririca coloca-se em posição diametralmente oposta à do
corporativismo e torna-se um improvável “outsider” na cena política,
despontando como um dos poucos legítimos representantes dos cidadãos de bem.
Parênteses: a roubalheira desnudada pela lista da Odebrecht é apenas uma faceta
da velha prática de lesa-pátria. As obras públicas custam duas, três, cinco
vezes o que deveriam custar. Como escreve Tiririca, isso mata gente na fila dos
hospitais. Mas há um outro lado: os ativos entregues pelas empreiteiras em
obras públicas são ruins, quando não péssimos. Exemplos abundam: algumas obras
das Olímpiadas do Rio de Janeiro ficaram danificadas na primeira chuva forte
que acometeu a cidade, isso sem falar da ciclovia carioca que – com apenas três meses
de inaugurada – desabou numa ressaca e causou mortes.
Ou seja: gasta-se muito mais do que o necessário e a população recebe um ativo muito
pior do que o contratado. Obras públicas, em qualquer lugar do mundo, estão
sujeitas a estouros de orçamento (com ou sem corrupção) e atrasos. Mas, em
países decentes, entregam-se ativos que terão vida útil de 30, 50, 100 anos. Um
breve passeio pelas capitais europeias é suficiente para corroborar este ponto.
Voltando à
missiva de Tiririca, em certa altura ele afirma que não está “conseguindo amar
o próximo”. Nobre deputado, não é somente Vossa Excelência. Trata-se de uma
doença brasileira, somos um dos países onde menos se confia no próximo. Os
homens públicos, que deveriam dar exemplo de probidade e lisura, ao contrário
contribuem para enterrar de vez a presunção da honestidade no Brasil. É impossível (ou, no mínimo, incauto) amar o próximo nestas terras tupiniquins.
Tiririca conclui seu texto com brilhantismo: “O povo precisa fazer uma limpeza geral da classe política. Não adianta a Justiça condenar se o povo absolve”. Mais uma salva de palmas, desta vez lembrando que 2018 vem aí.
Francisco Everardo conquistou minha admiração e é um dos poucos parlamentares que me representa. Assim como ele, fui palhaço por muito tempo: ele pelo ofício circense, eu por ter insistido em acreditar do Brasil. Assim como ele, abomino a Lei de Gérson. E, assim como ele, tenho vontade de esganar muitas pessoas todo santo dia, porque o Brasil cansa demais.
Je suis Tiriricá!!
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