Como água para chocolate


(Por: Mariano Andrade)

O filme mexicano “Como água para chocolate” foi um sucesso do cinema nos anos 90. Ele conta a história de Tita, uma jovem cuja família tinha uma regra: a irmã mais nova deveria cuidar da mãe até sua morte e, para isso, não poderia se casar.



No Brasil, temos diversos entes públicos cuja missão parece ser cuidar da burocracia até sua morte (teríamos um Highlander aqui?) e, para tal, não podem permitir o progresso econômico e social. O Cade é um deles.

Em 2002, a Nestlé firmou a compra da Garoto, promovendo a fusão em 2003. Agora – 14 anos depois da combinação das companhias – o Cade determina que a Nestlé é obrigada a vender certas marcas de seu portfólio. O leitor entendeu bem: 14 anos depois. E a burocracia segue vivinha da silva.

A missão do Cade é a “defesa econômica”, ou seja, evitar a formação de grupos ou cartéis que controlem preços e lesem o consumidor. Será que nesses 14 anos o consumidor de chocolates sentiu-se “indefeso”? Claro que não, pois o negócio de fabricação de chocolate não tem barreiras à entrada tão fortes. Quando o retorno sobre o capital investido é alto demais (ou seja, praticam-se preços demasiadamente elevados), novos entrantes ingressam no mercado oferecendo preços menores para ganhar market share.

Além disso, houve o milagre da importação – bem-vindos, Lindt, Cadbury e Milka. O governo Collor já mostrara que abrir o canal de importação para certos produtos consegue – ao mesmo tempo – reduzir preços ao consumidor e melhorar a qualidade. Quem não se lembra das nossas carroças?

Por falar em carros – carroças, para ser mais preciso: é ao menos curioso que um mesmo país tenha, ao mesmo tempo, o super-herói Cade e a excrecência Autolatina. É para defender quem mesmo? Será que, na época da Autolatina e durante o agigantamento da JBS, o Cade estava muito ocupado com o setor de balas de menta?

Voltando aos chocolates, a decisão extemporânea do Cade é risível. Aproveitando o trocadilho com uma das marcas que deve ser vendida – Lollo, aquela da vaquinha e antigamente conhecida como Milky Bar – o Cade permitiu à Nestlé “milk the cow” por 14 anos para agora a companhia ser obrigada a vender a vaca leiteira. Defesaça, Cade!

Hoje em dia, o consumidor que entra em qualquer loja de conveniência ou mercado encontra diversas marcas de chocolate com preços em diversos patamares. Arcor, Hershey’s, Nestlé, Neugebauer, Lacta, Lindt, Milka, dentre tantas outras. Se a Nestlé/Garoto tentasse cobrar um preço abusivo, o consumidor teria diversas outras opções para escolher. O Cade é o super-herói que chega sempre atrasado, o zagueiro que só dá furada, a burocracia que não morre.

Na fantasia do filme mexicano, os sentimentos de Tita passam para sua comida e inebriam os comensais – ora com tristeza, ora com libido, e por aí vai. Diferentemente do filme, a burocracia tardia do Cade não mudou e nem vai mudar nada na vida de quem consome chocolate, mas entorpece as contas públicas e a atividade econômica com ingredientes desnecessários. Tal qual a CLT, uma herança maldita dos nossos governos nacionalistas/socialistas. Arghhh, chocolate vencido!!


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